domingo, 16 de agosto de 2015

Bangu - O berço do futebol brasileiro


O lendário campo da Rua Ferrer.
 O Brasil (ainda) é o país do futebol, esporte bretão por natureza, embora tentem elitizá-lo desde sempre. Lima Barreto, nacionalista convicto, sempre se referiu ao esporte como "bolapé" ou "ludopédio", pois não aceitava a tradução em português do termo britânico "football". 

 Sabemos que o futebol chegou até aqui através do Reino Unido, mas não foi por obra dos ingleses, tampouco na Zona Sul da cidade. Muito antes da família Cox desembarcar em terras tupiniquins, um escocês chamado Thomas Donohoe ja comandava partidas num campo anexo à Fabrica de Tecidos Bangu, onde surgiu posteriomente o Campo da Rua Ferrer, e atualmente se localiza o monumento a Thomas, no estacionamento do Bangu Shopping.
 O Bangu Atlético Clube surgiu oficialmente em 1904, mas antes disso, e antes mesmo de qualquer dos clubes mais antigos (Rio Grande, Ponte Preta, Fluminense) surgir, já havia um time chamado Bangu, formado por operários da fábrica, a maioria ingleses, italianos, espanhóis ou descendentes diretos.

 O alvirrubro da Zona Oeste sempre se destacou pelo pioneirismo. Em 2001, recebeu a Medalha Tiradentes por ter sido o primeiro clube a aceitar um jogador negro em seus quadros, Francisco Carregal. Além disso, conquistou os campeonatos cariocas de 1933 e 1966, o Torneio de Nova York, espécie de mundial de clubes extra-oficial, em 1960, o Torneio dos Campeões, cuja fórmula de disputa lembra a das primeiras edições da Copa do Brasil, em 1967, e a Fita Azul, honraria concedida pela CBF por 12 jogos de invencibilidade contra clubes estrangeiros.
Time do Bangu campeão do Torneio de Nova Iorque em 1960. Da dir. pra esq. em pé: Joel, Ubirajara, Darci Faria, Ananias, Zózimo e Nilton dos Santos. Da dir. pra esq. agachados: Correia, Zé Maria, Luís Carlos, Ademir da Guia e Beto.

 Com a chegada do patrono Castor de Andrade ao poder, o clube viveu sua fase áurea nos anos 1980, quando perdeu nos pênaltis o título do campeonato brasileiro de 1985 para o Coritiba, num Maracanã lotado por mais de 100 mil torcedores banguenses, flamenguistas, vascaínos, tricolores e botafoguenses. Enfim, o Rio de Janeiro se vestiu de alvirrubro naquele dia, e se o título não veio, pelo menos a campanha serviu para coroar o ponta-direita Marinho como craque da competição. No ano seguinte, o clube disputou a Libertadores, num grupo onde haviam o rival da final no ano anterior, Coritiba, e os equatorianos Barcelona, de Guayaquil, e Deportivo Quito. Caiu na primeira fase.
Marinho em 1985.

 Naquele mesmo ano, o Bangu penou pra se manter na primeira divisão do Campeonato Brasileiro, mas foi alijado da disputa de 1987, devido à manobra política covarde que criou a Copa União. Mesmo assim, chegou à semifinal do módulo amarelo daquele torneio, sendo eliminado pelo Sport, até hoje reconhecido como campeão oficial. Aquela foi uma das últimas façanhas do clube , além da conquista da Taça Rio - segundo turno do Campeonato Carioca - contra o Botafogo. Em 1988, o clube  disputou pela última vez a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, sendo rebaixado ao lado de Santa Cruz, Criciúma e América. 
Mauro Galvão com a taça de 87.
 Atualmente, o Bangu não disputa nenhuma das quatro divisões do campeonato brasileiro. Esteve perto disso em 2013, quando perdeu a final da Copa Rio (espécie de campeonato carioca sem Bota, Fla, Flu e Vasco), para o Nova Iguaçu, e esse ano, quando só precisava vencer o Resende em seu estádio, pelo Carioca, mas acabou derrotado. A morte do eterno patrono, além de más administrações, fizeram com que o Bangu não acompanhasse o ritmo das mudanças no futebol e perdesse espaço.

Só que o alvirrubro é grande. Enverga, mas não quebra. Pelas suas fileiras já passaram craques como Ademir da Guia, Aladim, Arturzinho, Cláudio Adão, Domingos da Guia, Fausto, Marinho, Mário Tito, Mauro Galvão, Neto, Paulo Borges, Zózimo, e o maior de todos eles: Zizinho. Como diz a letra de seu hino: "o Bangu também tém a sua história". Talvez a mais bonita dentre os clubes cariocas e nacionais.

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